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Contador gratuito O Estadulho: outubro 2009

domingo, outubro 25, 2009

Ensaio sobre a cegueira

O Evangelho deste domingo apresenta-nos um cego chamado Bartimeu. A sua situação de cegueira evoca uma realidade que conhecemos bem… a situação de um homem que jaz na escuridão, dependente, acomodado e confirmado com a sua situação. Evoca a condição daquele que está acomodado na sua situação de miséria, instalado nos seus preconceitos e projectos pessoais, conformado com uma vida de horizontes limitados, dependente da caridade dos passantes.
Evoca a situação do homem escravo, prisioneiro do egoísmo, do orgulho, dos bens materiais, da preguiça e da vaidade. É a condição daquele que se sente refém dos seus vícios, hábitos e paixões e que sente a sua incapacidade em romper, por si só, as cadeias que o impedem de ser livre.
Será que esta situação é inseparável e que o homem está condenado de forma permanente? A Palavra de Deus que nos é proposta garante-nos que a situação do homem cego, prisioneiro da escuridão, não é uma situação incontornável, obrigatória, sem remédio… Jesus veio ao mundo com uma proposta de libertação destinada a todos aqueles que procuram a luz e a vida verdadeira. Jesus de Nazaré que Se cruzou com o cego à saída de Jericó continua a cruzar-Se hoje, de forma continuada, com cada homem e com cada mulher nos caminhos da vida e oferece-lhes, sem cessar, a proposta libertadora de Deus.
Este evangelho surge na liturgia, na semana em que está bem viva a polémica provocada pelo autor do “Ensaio sobre a cegueira” visando a promoção da venda do seu mais recente livro que evoca uma personagem do imaginário bíblico. Pelas ideias manifestadas, Saramago manifesta uma total ignorância sobre os textos sagrados e coloca-se na situação daqueles cegos agarrados a preconceitos rancorosos, cheios de intolerância relativamente aos que, libertados da cegueira, se deixam iluminar por Cristo.
Bartimeu, por sua vez, soube romper com a situação em que se encontrava, respondeu ao apelo de Cristo, levantou-se, atirou fora a sua capa e correu atrás de Jesus. O gesto de Bartimeu representa, aqui, a renúncia imediata à vida antiga, aos preconceitos ideológicos, à cegueira de quem teima em não querer ver, ao comodismo, à escravidão, aos comportamentos incompatíveis com a adesão a Cristo e a esse caminho novo que Jesus o convida a percorrer. É isso, também, que é pedido a todos aqueles a quem Jesus chama à vida nova. É preciso, no entanto, que não nos fechemos no nosso egoísmo e na nossa auto-suficiência, surdos e cegos aos apelos de Deus; é preciso que as nossas preocupações com os valores efémeros não nos distraiam do essencial; é preciso que aprendamos a reconhecer os desafios de Deus nesses acontecimentos banais com que, tantas vezes, Deus nos interpela e questiona…

domingo, outubro 11, 2009

O jovem rico

O que é preciso fazer para alcançar a vida eterna? Trata-se de uma questão que inquieta todos os crentes e que certamente já pusemos a nós próprios, com estas ou com outras palavras semelhantes. Jesus responde: é preciso, antes de mais, viver de acordo com as propostas de Deus (mandamentos); e é preciso também assumir os valores do Reino e seguir Jesus no caminho do amor a Deus e da entrega aos irmãos.
O Evangelho deste domingo fala da história do jovem rico, que buscava a vida eterna mas não estava disposto a prescindir da sua riqueza. A atitude do jovem rico alerta-nos para a impossibilidade de conjugar a vida eterna com o amor aos bens deste mundo. A riqueza escraviza o coração do homem, absorve todas as suas energias, desenvolve o egoísmo e a cobiça, leva o homem à injustiça, à exploração, à desonestidade, ao abuso dos irmãos… É, portanto, incompatível com o “caminho do Reino”, que é um caminho que deve ser percorrido no amor, na solidariedade, no serviço, na partilha, na verdade, no dom da vida aos irmãos. Podemos levar vidas religiosamente correctas, frequentar a Igreja, dar o nosso contributo na comunidade, ocupar lugares significativos na estrutura paroquial; mas, se o nosso coração vive obcecado com os bens deste mundo e fechado ao amor, à partilha, à solidariedade, não podemos fazer parte da comunidade do Reino.
Igreja de S. Simão da Junqueira VCD - o jovem rico (pormenor dos azulejos)