As celebrações centenárias dos acontecimentos que, há um século, marcaram o destino da nossa Nação, começam necessariamente, hoje: o Regicídio foi acontecimento decisivo na revolução que levou à mudança do regime político. Não foi, infelizmente, o último acto de violência. Durante todo o primeiro quartel do Século XX esta foi caminho justificado para impor ideias e políticas: foram suas vítimas homens políticos, pessoas e associações; foi sua vítima, como sabemos, a própria Igreja, na perseguição das pessoas, sobretudo de sacerdotes, na destruição de estruturas e instituições, na espoliação injusta de bens essenciais para o exercício da missão da Igreja. Oxalá as celebrações dos próximos anos sejam marcadas por uma denúncia da violência, que deve ser rejeitada e combatida por todos, em todas as frentes. A Igreja e os cristãos querem estar na primeira linha desse combate, perdoando as violências sofridas e dando testemunho de convivência, no amor, com todos, mesmo aqueles que não se identificam connosco. Só a convivência tolerante e fraterna nos levará a uma sociedade justa, humanizada, democrática. Católicos e não católicos, que ninguém ressuscite fantasmas antigos, porque cem anos significaram um caminho andado, e a celebração das grandes efemérides históricas só tem sentido se celebram o presente e se abrem a um futuro novo. Saibamos exorcizar todas as formas de violência, remindo pecados passados, de que a própria Igreja não foi isenta, contribuindo apaixonadamente para uma sociedade mais fraterna. (Extracto da Homilia do Cardeal-Patriarca, hoje proferida, na Igreja de São Vicente de Fora por ocasião do centenário do regicídio)